Nossa lua: a Lua

Introdução

Por que a nossa lua não tem um nome? Por que nós chamamos a nossa lua simplesmente de Lua? Nós não poderíamos usar um nome mais apropriado do que apenas Lua? Este texto explora a origem do nome da nossa lua em diferentes culturas e as razões por trás da recomendação oficial da UAI.

A importância da Lua

As pessoas têm nomeado os objetos celestes ao menos desde a invenção da escrita. Quase toda civilização e cultura tem nomes para as estrelas e planetas visíveis a olho nu, e também para sua distribuição aparente no céu (Montmerle, 2013 - texto em inglês).

Culturalmente, a importância da Lua em várias sociedades em diferentes épocas é universal. Nossa lua, enquanto o segundo objeto mais brilhante do céu depois do Sol, sempre teve uma designação específica em todas as culturas conhecidas, além de estar presente em mitologias e ser o foco de pesquisa científica ao longo da evolução da humanidade.

O satélite do nosso planeta Terra é chamado Lua (com L maiúsculo) tanto na designação científica (link em inglês) quanto no uso cotidiano. Um satélite natural - um objeto sólido que orbita em torno de um planeta, de um planeta-anão, de um planeta menor, ou de um objeto transnetuniano - é muitas vezes chamado de lua (com l minúsculo).

Na mitologia Romana, a Lua é chamada de Luna, e esta origem Latina prevalece nas línguas Latinas modernas ainda hoje: Luna em Espanhol e Italiano, Lune em Francês,  Lua em Português,  Lună em Romeno, para citar alguns exemplos. Mesmo línguas não Latinas, como o Inglês, possuem termos de origem Latina como o adjetivo lunar. Na mitologia Nórdica, Máni é a personificação da Lua, do que advém as palavras Sueca, Norueguesa e Dinamarquesa para Lua (Månen). Em Havaiano, a Lua é Mahina, relativo à deusa da lua, Hina. Em  Hindu, a Lua é chamada de चांद (chaand), Maan em Africâner e Inyanga em Zulu. Em Chinês e Japonês, a Lua é representada pelo mesmo logograma 月, que é pronunciado tsuki em  Japonês e iuê em Mandarim.

Dar nomes coloquiais para objetos celestes é uma prática anterior à denominação pela ciência. Somente nos tempos modernos, com o advento de telescópios cada vez mais sofisticados, surgiu a necessidade de estabelecer padrões para a definição de nomes científicos para os objetos celestes para fins de pesquisa (Montmerle, 2013 - link em inglês).

Descobrindo outras luas

Em janeiro de 1610, o astrônomo e matemático italiano Galileu Galilei apontou seu telescópio para o planeta Júpiter e descobriu quatro objetos aos quais ele se referiu como "estrelas" (link em inglês). Todos os quatro objetos dispunham-se alinhados em torno de Júpiter. Pela observação diária, Galileu notou que as "estrelas" não tinham posições "fixas" em torno de Júpiter: a posição relativa das "estrelas" ao longo da linha mudava dia a dia. Esse movimento poderia ser explicado se esses corpos girassem em torno de Júpiter como a Lua se move em torno da Terra.

 

Desenhos de Júpiter e das estrelas Medicianas do livro Sidereus Nuncius - O Mensageiro das Estrelas

Sample of Sidereus Nuncius drawings of Jupiter and the Medicean Stars

 

Imagem I - Desenhos de Júpiter e das estrelas Medicianas do livro Sidereus Nuncius - O Mensageiro das Estrelas. (A imagem original é uma cortesia da Coleção de História da Ciência das Bibliotecas da Universidade de Oklahoma)

 

Simon Marius sugeriu os nomes Io, Europa, Ganímedes e Calisto (da mitologia greco-romana) em 1614. Apesar desses nomes não terem sido muito utilizados a princípio, no século 20 eles se tornaram familiares ao público em geral e passaram a ser de uso comum.

 

Em 1610, a compreensão do Sistema Solar pela humanidade cresceu drasticamente. Os horizontes do conhecimento humano expandiram-se, e a nossa Lua não era mais o único objeto do seu tipo - descobriu-se então que objetos similares poderiam orbitar outros planetas.

 

A UAI e a denominação da Lua

A UAI tem atuado como árbitro para a nomenclatura de planetas e satélites desde sua fundação em 1919, sendo que as recomendações da UAI baseiam-se em fatos científicos bem estabelecidos e possuem um amplo consenso na comunidade de astrônomos. Na XVI Assembléia Geral da UAI, que ocorreu em Grenoble, França, em 1976, foi aprovada a Resolução No. 10 da UAI onde são definidas as designações (link) daqueles objetos que eram então classificados como planetas (Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão) e do satélite da Terra (Lua). Assim, os oitos planetas maiores de nosso Sistema Solar e o satélite da Terra têm nomes ou designações oficiais da UAI. O uso desses nomes em diversos contextos - cientificamente, na literatura das astronomias amadora e profissional, em almanaques náuticos, etc. -  já era comum desde 1919, quando a UAI foi formada. Enquanto os planetas e o satélite da Terra possuem nomes comuns ou culturais em diferentes línguas, em ciência é necessário que esses objetos possuam nomes "oficiais" clássicos ou designações, os quais são definidos nas resoluções da UAI em inglês e no Manual de Estilo da UAI (Nomeação de objetos astronômicos, 2017)

 

A designação da nossa lua  é, consequentemente, Lua, com L maiúsculo e é usada como um nome (substantivo próprio). O mesmo aplica-se para a designação de nosso planeta - Terra - e o Sistema Solar (Manual de Estilo da UAI, 1989), bem como para todos os demais planetas maiores. Em uma primeira análise, pode parecer que esses corpos celestes tão importantes não deveriam ter nomes “próprios”. Entretanto, é exatamente o contrário. Chamar a nossa lua de Lua e nosso sistema solar de Sistema Solar salienta sua importância para a humanidade - eles não são qualquer lua ou qualquer sistema solar.

 

Reerências da UAI (em inglês)

Links da IAU (em inglês)

 

Esta versão em português foi traduzida por voluntários da Astronomy Translation Network (Rede de Tradução de Astronomia,) coordenada pelo National Astronomical Observatory of Japan (Observatório Astronômico Nacional do Japão) e pelo IAU Office for Astronomy Outreach (Gabinete da UAI para Divulgação da Astronomia). 

Traduzido por Cláudia Vilega Rodrigues
Revisão de Tereza Satiko e Paulo Sobreira
Revisão científica de JVinicius Oliveira

 

Data: 25 janeiro 2019